segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Memorial a mestre Antônio de Dedé é inaugurado em Lagoa da Canoa

“Meu pai nunca aprendeu: ele nasceu sabendo ser artesão. Desde novinho, quando trabalhava na agricultura, pegava pedacinhos de pau e transformava em figuras”. Essa foi a descrição do primogênito do mestre Antônio de Dedé, Adailton Rodrigues, explicando a riqueza das peças de madeira esculpidas por seu pai, durante a inauguração do Memorial ao Mestre Antônio de Dedé, no município de Lagoa da Canoa, na noite do último domingo (27).

No portfólio do mestre estão santos, animais e personagens, em sua maioria. Todos com um ar divertido, coloridos e cheios de vida. Uma frase marcante deixada por Dedé foi: “Não faço peça mal humorada. Eu só gosto de coisa divertida. Eu sou assim”.
Fotos: Adailson Calheiros
Em 2015, o artesão passou a ser considerado, pelo Governo do Estado, Patrimônio Vivo de Alagoas, mérito que orgulha toda a família. “Meu pai ensinou a gente a trabalhar com arte. Já nascemos vendo ele se dedicar à cultura popular, e hoje, eu e alguns dos meus irmãos continuamos o legado”, colocou Adailton dos Santos.

Algumas das esculturas expostas no memorial são de dois dos nove filhos do mestre, dando continuidade ao trabalho do pai, que faleceu ano passado. Outras três filhas fazem bonecas de madeira de parede. “Todos nós herdamos esse gosto pela cultura”, disse o filho de Dedé e também artesão, Antônio José Rodrigues.
Ele ainda explicou que a maioria das peças produzidas é de santos, por preferência da clientela. “Geralmente os colecionadores e as pessoas que nos compram para revender em galerias preferem santos. Por isso, grande parte das esculturas são figuras religiosas.”

A arte do mestre Dedé, hoje, está espalhada em galerias pelo Brasil e no exterior, como Canadá e países da Europa, e são revendidas por até R$ 40 mil. “Há algum tempo, quando o pessoal começou a comprar para revender em galerias, nós não tínhamos noção do valor e vendíamos muito barato. Em uma viagem que fiz para São Paulo, fui a uma das galerias e vi o preço de revenda. Foi quando começamos a entender o valor da nossa arte”, salientou Antônio.

Memorial
Um pequeno espaço no Centro de Lagoa da Canoa, cidade natal de Antônio de Dedé, guarda lindas recordações da vida e do trabalho do artesão. Ferramentas que ele utilizava, livros, fotografias e esculturas estão expostas, mantendo viva a memória do mestre.

De acordo com o curador do memorial, Paulo Gomes, a intenção é valorizar a arte do mestre Antônio de Dedé dentro da própria cidade natal. “Por incrível que pareça, ele era muito pouco conhecido em Lagoa da Canoa. Morava na vila, em um local marginalizado. Tão pouco visto em sua cidade, mas respeitadíssimo e conhecido fora, pelas pessoas do meio da arte, inclusive, hoje, das artes contemporâneas”, explicou o curador.

Por: Agência Alagoas  //
Fotos: Adailson Calheiros